quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Sobre o mercado de ações (parte 2)

Bem, continuando o assunto de semana passada falaremos mais um pouco a respeito de ações e da bolsa de valores.

 
Um tópico importante que citei no último post, mas esqueci de explicar foi sobre Tag along. Só para esclarecer, esse mecanismo previsto em lei serve para proteger os acionistas minoritários (pequenos investidores) que possuem (geralmente) ações ordinárias de uma determinada empresa. Geralmente o percentual varia de 80% à 100%.

Imaginemos a seguinte situação: João possui 3000 ações da empresa Y que ele adquiriu a um preço de R$1,00. De repente, surge a notícia de que uma organização Z quer comprar as ações do controlador da companhia (o majoritário que detêm mais de 50% das ações) por um preço de R$ 2,00. Caso a negociação se efetive, as suas ações que possuem um tag along de 80%  será oferecido o valor equivalente a esse percentual pelas suas ações.

E aí, cabe ao investidor se aceitará realizar a venda ou não.

Agora que consegui corrigir o erro de semana passada, podemos dar continuidade ao post. Agora falarei sobre como escolher as ações na bolsa.


O primeiro passo é você estudar a respeito de como será sua estratégia das compras de ações. Existem muitas pessoas que usam as análises técnicas para atuar na bolsa. Estudam gráficos, acompanham as oscilações dos preços e dominam as técnicas das ordens de STOP e Compra.

Com os conhecimentos corretos você trabalha com Day-trade (compra e venda diária de ações), Swing trade (compra e venda semanal de ações) ou Can Slim(compra e venda mensal de ações). Como esse não é o campo que eu tenho domínio, não entrarei em detalhes sobre o assunto.

Na minha humilde opinião, acho que essa forma de trabalhar no mercado financeiro é muito perigosa. Além de precisar de um capital volumoso para especular, é necessário sangue frio e entender que as perdas acontecerão cedo ou tarde. Então você deve utilizar um dinheiro que não está comprometido com nada.

Já a outra forma de utilizar a bolsa é através da análise fundamentalista fazendo o Buy and Hold. Basicamente, você irá buscar por ações que estejam em um valor abaixo do que realmente valem, que dêem lucros consistentes e que possuam um crescimento constante.

Aqui a lucratividade não surge do dia para a noite, mas sim no decorrer dos anos com o crescimento da empresa e o reinvestimento dos dividendos. A visão desse tipo de investimento é sempre à Longo Prazo, ou seja, pelo menos uns 15 à 20 anos no mínimo.


De início é bacana procurar conhecer os principais indicadores (ferramentas técnicas) que te mostram alguns valores que podem influenciar na aquisição dos papéis de uma empresa. Os principais são os seguintes:

LPA (Lucro por Ação) – O LPA reflete o lucro líquido da empresa dividido pela quantidade de ações disponíveis no mercado. Usando o Banco do Brasil como exemplo, o lucro líquido do Banco do Brasil é de R$14.354.100.000,00  e o número de ações circulando na bolsa é de 2.865.420.000. O resultado da conta é de R$5,01 que significa que para cada 1 ação ela obteve essa parcela de lucro.

Esse valor pode parecer bacana, no entanto é necessário ter cautela quando se vai analisar qualquer empresa. Para ter mais confiabilidade no uso dessa informação devemos verificar se o crescimento desse número é crescente no decorrer dos anos.


P/L (preço/lucro) -  O cálculo desse indicador é o preço atual da ação dividido pelo lucro de cada ação(LPA). Com esse resultado em mãos, podemos dizer quanto tempo levará para você ter o dinheiro investido de volta em forma de lucro. Continuando a usar o Banco do Brasil como exemplo. O preço atual do papel é de R$18,57 e seu LPA é R$5,01 e fazendo essa conta (18,57/5,01) chegamos em um resultado de 3,71 que nos leva a crer que em um período de 3 a 4 anos teríamos o retorno do valor inicialmente investido em forma de lucro.  O que normalmente é divulgado é que P/L de valor 15 são medianos, acima disso estão caras e abaixo desse valor baratas.

Isso demonstra que as ações do banco são extremamente atraentes visto que o retorno é em um prazo relativamente curto.

Mas lembre-se que esse indicador jamais deve ser utilizado sozinho e cada pessoa deve estipular qual o valor de P/L que ela acredita ser o ideal para si. Eu, geralmente, verifico médias setoriais que me dão uma noção um pouco melhor do que posso considerar bacana para minha carteira.

VPA (Valor por Ação) - O valor patrimonial por ação (VPA) indica o valor do patrimônio líquido da empresa por ação. O patrimônio líquido é calculado subtraindo-se do total de ativos da empresa (máquinas, dinheiro em caixa, fábricas, terrenos, patentes, etc) do patrimônio exigível total dela (suas dívidas) e dividindo pelo número de ações. Então ele indica o real patrimônio pertencente a empresa e seus acionistas. O Banco do Brasil atualmente conta com o valor de R$25,10.

P/VPA (Preço/Valor Patrimonial por Ação) – Esse indicador é calculado da mesma forma que o P/L, pegando o preço da ação e dividindo pelo VPA. Ele mostra quanto o mercado está disposto a pagar por cada R$1,00 que o acionista investir na empresa.

Empresas boas geralmente tem um P/VPA acima de 1, pois ela é tão lucrativa que o mercado está disposto a pagar um preço superior por cada ação comparada ao seu VPA. Os acionistas consideram que a capacidade de lucrar da empresa é muito superior ao que ela vale.

Mas isso não significa que se a empresa estiver abaixo de 1 ela é ruim. Caso você faça as análises da empresa e veja que ela é lucrativa, que o P/L é baixo, que tem uma boa distribuição de proventos e ainda assim tem o P/VPA abaixo de 1, provavelmente você terá uma pechincha em mãos.

Calculando o P/VPA do Banco do Brasil 18,57/25,10 chega-se no resultado de 0,74 indicando uma boa oportunidade de adquirir uma empresa lucrativa à um preço baixo.

DY (Dividend Yeld) – O DY indica o percentual dos dividendos dos últimos 12 meses divididos pelo preço das ações. Grandes empresas, geralmente, apresentam esse indicador baixo por utilizarem grande parte de seus lucros em reinvestimentos visando o seu próprio crescimento.

Nesse caso pode-se estabelecer um valor mínimo base para se analisar esse indicador e normalmente é aplicado o percentual de 6%.

O DY do Banco do Brasil gira em torno de 6,79% de acordo com meus últimos cálculos. 

Ainda existem outros indicadores importantíssimos como o LC (Liquidez Corrente) e o DBT/PL (Divida Bruta Total/ Patrimônio líquido), mas considero esses 5 primeiros como básicos para iniciar uma análise bacana.

Deve-se também levar em consideração a forma de governança da empresa, se sua lucratividade é constante e consistente, se ela é a melhor do setor e como ela se comporta diante dos cenários de que se apresentam no mercado. Com tudo isso em mãos é possível obter uma análise mais fiel à realidade da empresa e se realmente vale a pena investir nela.
Bom, acho que já falei bastante por hora. Vou deixar para o próximo post para falar a respeito das corretoras e de como se investir.

Lembrando qualquer informação que cito, é uma mera opinião minha e não indicação de compras de qualquer ação.

E como vocês analisam as empresas que investem? Dividam com a gente suas estratégias de compra. Qualquer dúvida ou crítica também é bem-vinda.

Abraços,

Daniel M. Ishihara

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